As Três Orações
02 - AS TRÊS ORAÇÕES
Instado pela assembléia de amigos a falar sobre a resposta do Criador às preces das
criaturas, respondeu o velho Simão Abileno, instrutor cristão, considerado no Plano Espiritual
por mestre do apólogo e da síntese:
Repetirei para vocês, a nosso modo, antiga lenda que corre mundo nos contos populares de
numerosos países... Em grandes bosque da Ásia Menor, três árvores ainda jovens pediram
a Deus lhes concedesse destinos gloriosos e diferentes. A primeira explicou que aspirava a
ser empregada no trono do mais alto soberano da Terra; após ouví-la, a segunda declarou
que desejava ser utilizada na construção do carro que transportasse os tesouros desse rei
poderoso, e a terceira, por último, disse então que almejava transformar-se numa torre, nos
domínios desse potentado, para indicar o caminho do Céu. Depois das preces formuladas,
um Mensageiro Angélico desceu à mata e avisou que o Todo-Misericordioso lhes recebera
as rogativas e lhes atenderia às petições. Decorrido muito tempo, lenhadores invadiram o
horto selvagem e as árvores, com grande pesar de todas as plantas circunvizinhas, foram
reduzidas a troncos, despidos por mãos cruéis. Arrastadas para fora do ambiente familiar,
ainda mesmo com os braços decepados, elas confiaram nas promessas do Supremo Senhor
e se deixaram conduzir com paciência e humildade. Qual não lhes foi, conduzir com
paciência e humildade. Qual não lhes foi, porém, a aflitiva surpresa!... Depois de muitas
viagens, a primeira caiu sob o poder de um criador de animais que, de imediato, mandou
convertê-la num grande cocho destinado à alimentação de carneiros; a segunda foi adquirida
por um velho praiano que construía barcos por encomenda; e a terceira foi comprada e
recolhida para servir, em momento oportuno, numa cela de malfeitores. As árvores amigas,
conquanto separadas e sofredoras, não deixaram de acreditar na mensagem do Eterno e
obedeceram sem queixas às ordens inesperadas que as leis da vida lhes impunham... No
bosque, contudo, as outras plantas tinham perdido a fé no valor da oração, quando,
transcorridos muitos anos, vieram a saber que as três árvores haviam obtido as concessões
gloriosas solicitadas... A primeira, forrada de panos singelos, recebera Jesus das mãos de
Maria de Nazaré, servindo de berço ao Dirigente Mais Alto do Mundo; a segunda,
trabalhando com pescadores, na forma de uma barca valente e pobre, fora o veículo de que
Jesus se utilizou para transmitir sobre as águas muitos dos seus mais belos ensinamentos; e
a terceira, convertida apressadamente numa cruz em Jerusalém, seguira com Ele, o Senhor,
para o monte e, ali, ereta e valorosa, guardara-lhe o coração torturado, mas repleto de amor
no extremo sacrifício, indicando o verdadeiro caminho do Reino Celestial...
Simão silenciou, comovido.
E, depois de longa pausa, terminou, a entremostrar os olhos marejados de pranto:
Em verdade, meus amigos, todos nós podemos endereçar a Deus, em qualquer parte e em
qualquer tempo, as mais variadas preces; no entanto, nós todos precisamos cultivar
paciência e humildade, para esperar e compreender as respostas de Deus.
FRANCISCO CANDIDO XAVIER
CARTAS E
CRÔNICAS
( Ditadas pelo Espírito Irmão X)